domingo, outubro 22, 2006

Samuel Fuller, in some words

“Fuller adorava as sombras do filme ‘noir’, a selvageria do Oeste, o caos da batalha”, escreveu Rus Thompson.

Samuel Fuller desde cedo viveu num ambiente cercado de almas inóspitas. Aos 17 anos ele foi repórter policial, no “San Diego Sun”, o que permitiu a ele a coleção de “materiais” para a sua futura carreira como diretor de cinema. Trabalhando nas coberturas dos mais absurdos acontecimentos, como repórter, Samuel teve contato com vários tipos de marginais sociais. Bandidos, assassinos, corruptos, estes eram o objeto de estudo do garoto Fuller. Sua inserção primordial no mundo cinematográfico se deu quando, na década de 30, ele começou a colaborar com diversos roteiros de filmes B. Temporariamente ele teve de se afastar das câmeras e máquinas de escrever para servir na Segunda Guerra mundial, pela Primeira Divisão de Infantaria, onde lutou no Norte da África e na Europa. Mais uma vez a iniqüidade faz parte do cotidiano de Samuel. As mais diversas formas de “matar ou morrer”, discriminação e humilhação foram vivenciadas por ele na época em que serviu o exército Norte Americano. Como um soldado com muitas condecorações, Fuller agora também estava munido de conhecimentos sobre campos de batalha, guerra e violência (muitas vezes gratuitas) temas que futuramente se tornariam a chave para muito dos seus filmes. O primeiro filme dirigido por Fuller foi I Shot Jesse James, em 1949. A partir daí sua contribuição para o cinema foi crescente e intensa. Fuller começava a criar a sua linguagem e estética cinematográfica, aparecendo, durante as décadas de 50 e 60, época em que dirigiu 17 filmes, como um dos promissores cineastas da era pós-guerra nos EUA. Ele iniciava – bem no epicentro da época clássica – a abordar temas sociais antes ignorados pelos diversos diretores, seus contemporâneos. Ele nunca fez parte de nenhum movimento ou gueto no espaço fílmico, pois se via compromissado com a denúncia, com a ação. Era um outsider. Ousou na criação de filmes com características modernas, os quais abordavam profundamente temas dos becos escuros da tão ‘harmoniosa’ América. Fazia uso da atmosfera Noir, das luzes expressionistas para denunciar o choro dos excluídos. Fuller não era adepto ao maniqueísmo estadosunidense, por este motivo, nos seus trabalhos esforços não foram poupados para desconstruir o protótipo dos mocinhos e vilões. Pode-se dizer que o diretor pincelava o arquétipo dos anti-heróis. Os personagens principais dos seus filmes (os antigos “mocinhos”) eram homens e mulheres comuns, cheios de defeitos e desvios de personalidade, eram ladrões, soldados, prostitutas e pedófilos. Uma qualidade intrínseca a Fuller, que pode ser considerado como um presente dele ao cinema, era a habilidade de tecer uma linguagem quase documental, com uma narrativa direta e sem floreio de adjetivos, além de criar diálogos objetivos, porém cheios de carga política e insinuações acerca da concreta realidade. O cenário, o ambiente e as figuras dramáticas de Samuel eram caracterizados por uma desordem na essência, muita contradição, mistério e sombras. Esse conjunto de atributos chocava a sociedade e críticos da época, o que ocasionou na pouca distribuição dos seus filmes na ocasião em que eram lançados, pois nenhum distribuidor se arriscaria a pôr a abordagem Fulleriana do real nas telonas. Em suma, Samuel Fuller (segundo meu ponto de vista) significa para o cinema a queda das máscaras, falando visceralmente da conjuntura real da sociedade na qual ele era inserido. Nele existia a - quase - perfeição da técnica de realizar filmes, equilibrando a luz, os contrastes e a fotografia num tripé invejável. Os atores reafirmavam a veracidade de Samuel, dando aos seus personagens mais vida do que as geniais palavras encaixadas no script, o suposto responsável pela existência dos personagens. Enfim, Fuller significava a voz que precisava emergir para ser ouvida e compreendida, motivo pelo qual ele foi a razão do medo e do forçado esquecimento por parte dos cidadãos do seu país.
Emilly Dias

4 Comentários:

Blogger tuiu disse...

Caramba... Fico um tempo sem aparecer e surgem dezenas de resenhas assaz interessantes sobre coisas que não sei bulhufas e me chamam atenção por detalhes interessante aos olhos desse leigo que vos fala, como o titulo incrivel de: "I Shot Jesse James". Que me motivou, ao menos no campo da idéias a usar um nome parecido pra escrever um história que possivelmente nasceria irmã da original, sem nem saber do que se trata a sua predecessora... A proposito, não respondeu: de qm eh a foto?
As letras de segurança são essencias, já que antigamente meu blog era vitima de spams idiotas, q graças as letrinhas são evitados. ^^

1:18 AM  
Blogger Nina. disse...

ah! tirando jogos mortais 2, (haha) só filmes que eu queria ver.
vc tá falando com uma doida por cinema p&b...que nunca se dignou a ver todos os 100 mil filmes da lista "não deixe de ver" do cinema..
ta conseguindo os filmes onde?
devia me chamar pra ver, chata.

eu to quieta tbm, nunca mais saí mesmo, nem nadinha. num clima bem casamento burguês, haha.
falando nisso, ja votei com o email de pow, e com um bocado de email de amigo.
qndo tiver tempo faço com mais emails.

se quiser companhia me liga, sua cinéfila, na verdade a gente mora uma do lado da outra.
saudades
=**

8:19 AM  
Blogger Iris de Oliveira disse...

seu blog é um dos melhores blogs de cinema da Bahia

:*
eu já me divirto por aqui!!
Iris

4:42 PM  
Blogger Iris de Oliveira disse...

eu falo pra davi que vc broca nos textos!! é muito bom mesmo. morremos esturricados de inveja. eu me divirto com coisa boa, lendo coisa boa, com conteúdo, com referência, com simplicidade.

beijos e nos vemos no festival!
Iris

6:24 PM  

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