Oito de junho [...]
Depois do imenso alarde daqueles que crêem no demônio, juízo final, dogmas religiosos e todas essas coisas duma mesma "matéria substrata", tive o meu dia "6.6.6" incólume, completo e pleno. Fato semelhante ocorreu nos dois outros subseqüentes.
Ao fechar os olhos, na madrugada do dia 07, após uma pequena apreciação dos dotes da Marilyn Monroe, como a Adorável Pecadora, imaginei como seria minha quinta-feira psicanalítica-filosófica.
Acordei com umas olheiras inimagináveis e uma enorme vontade de jogar tudo para o alto: Freud, palestras, obrigações [zinhas] não emergenciais. Tudo isto em prol duma única e cogente coisa: a completude.
Às 11horas, do dia oito, meu celular gentilmente toca ressoando, do outro lado, aquela voz conhecida:
"Minha pausa. Liguei para que você não esquecesse do quanto lhe adoro..."
Daí fez-se viva toda obra de Dalí. O surrealismo dum sorriso.
Entrei no carro vermelho da minha mãe, liguei o motor e Gonzaga para me acompanhar até a porta de casa.
Sentia uma fome devastadora. E sono (e aquela angustiante vontade de não fazer o que deveria ser feito).
Chego em casa, a comida sendo preparada, o estômago revirando as glicoses restantes do café da manhã (salvo por um chocolate roubado antes da refeição principal) e o anseio impulsivo de ouvir aquela voz novamente.
De maneira inesperada, um convite:
"Estou livre até as duas, você tem algo programado para este horário?"
"Não!" - me adiantei em dizer, mesmo sabendo que cada minuto do dia estava com um compromisso a ser realizado.
"Ótimo. Espero por você, depois do almoço".
Ligo o DVD e ponho "Assassinos por Natureza". Enquanto alcançava seu turbulento quinto minuto, o celular vibra e a voz pergunta o porquê da demora.
Havia me esquecido de levantar. Estava quase entregue ao sono.
Escovei meus dentes, pus 'o elemento' na bolsa e, nas mãos, as chaves do carro e da minha casa.
Estacionei calmamente, saí calmamente do carro, cheguei calmamente à sua casa, sentei-me calmamente (e meio sonolenta) na peça encostada na parede.
Aquele a quem a voz pertencia me olhou nos olhos, acariciou meu rosto e indagou: "Trouxe?"
Vagarosamente, tiro da bolsa o que havia prometido.
Pus uma porção na mão dele: Ele cheirou.
Pus uma porção na minha mão: Espalhei pelo meu corpo, o qual o outro sentia vertiginosamente.
Ficamos de pé;
Encostamo-nos naquele móvel próximo à parede;
Levantamo-nos depois de certo tempo.
Saímos do cômodo, onde nos encontrávamos.
Passeio de carro, troca de ingressos, acarajés, trobadinhas, automóvel morto e ... o cômodo novamente.
Corpos no móvel próximo a parede.
Pernas flutuantes em dança.
Piadas irônicas.
Conversas sérias, outras nem tanto.
O móvel se mexia.
Os corpos se punham de pé, de cócoras, em outras posições tantas, num alongamento constante, numa libertação, em atos, gestos e palavras.
E por quatro vezes repetiram.
...
O dono da voz começa a andar. Conflitos de ansiedade.
Eu, ainda sentada no móvel situado contra parede próxima à porta, segurava papéis e minha grafite rabiscando formas e buscando o sentido delas.
Todas as luzes são apagadas.
Os corpos se abraçam, se misturam se fundem num interminável ritual de conforto mútuo.
Palavras declamadas, sensibilidades afloradas e o dois se faz um.
Assim o nosso ciclo recomeça: adorando mais hoje do que pensava poder adorar ontem.
Sempre um sorriso, sempre adeus de curta duração.
Volto para carro vermelho.
Com silêncio e em silêncio, sendo feliz.
Abrindo a porta metálica, fechando a de madeira, sempre sorrindo;
Sempre.
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Imgem: Jill Greenberg
1 Comentários:
pois nao é que senhorita emilly anda disvirtuando o objetivo inicial do blog e postando coisitas pessoais?
haha.
mas eu adoro ler.
honey, segunda ja to de ferias.
voce vai viajar, fzer algo?
porque senao, teremos tempo, finalmente.
ah, vc que é fã dos mutantes tambem..
ja parou pra ouvir Cilibrinas do Eden?
é um trabalho que Rita fez logo pos-mutantes, com uma amiga pouco conhecida, Lucia Turnbull. muito legal, ainda conservando a lisergia dos Mutantes, um trabalho muito rock'n'roll e feminino.
se quiser, depois te mando.
oh, nunca paro de pensar em vc, toda vez que descubro um livro/filme/projeto musical, fico com vontade de te mostrar.
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