quinta-feira, dezembro 08, 2005

Charles Bukowski


Ben Gazzara em cena de crônica de um amor louco , de Marco Ferreri: alter ego de Charles Bukowski
Charles Bukowski (1920-1994) foi um autor único em vários sentidos. Em primeiro lugar pela decisão de fazer da literatura um corpo-a-corpo com a vida. Escreveu sobre a única coisa que conhecia, ele mesmo, em seus momentos mais sórdidos, doídos, apaixonados, deprimidos, céticos. Foi também único porque não fez parte de escola, embora parecesse um primo pobre tardio da geração perdida de Ernest Hemingway e Gertrude Stein ou um dos integrantes dos alucinados anos da beat generation. Foi tão sozinho como singular. Mas tem mais: sua individualidade estava em não ser a favor de nada. Nascido na Alemanha, mudou-se aos três anos para os Estados Unidos. Não se identificava com a cultura européia mais sofisticada, embora fosse um homem culto, nem com o democratismo da expressão norte-americana, ainda que escrevesse em revistas suspeitas e fizesse leituras de poemas em botequins. Foi um exilado de si mesmo. Mas Bukowski era um cara legal porque, apesar de uma herança de violências pessoais e miséria contumaz, colocou inteligência e senso de humor no que fez. Ele escrachava com tudo, perdia a classe, perdia dinheiro, perdia mulheres, perdia empregos, mas não perdia a inteligência de viver. Sua obra, já bem conhecida no Brasil em sua vertente de prosa, ganha agora um reforço com a publicação dos 25 melhores poemas de Charles Bukowski, em edição bilíngüe com tradução sofisticada de Jorge Wanderley. E Bukowski, que é interessante na prosa confessional, se mostra um poeta igualmente ligado na vida. Sua poesia reescreve sua saga pessoal, com o mesmo senso de realidade e quase cinismo, mas com um elemento a mais.
Os poemas são longos, escritos sempre em primeira pessoa, narrando fatos como a dureza de viver, as noites de insônia, a atração pelas mulheres. Parecem — e são — o mesmo enredo de livros como Cartas na rua, Mulheres e Factótum, por exemplo. Mas o que era expressão direta de histórias que brotavam do esforço preguiçoso em apenas continuar vivendo com a cota possível de prazer se torna mais reflexivo e lírico. Não lirismo arranjado com recursos de estilo, mas um jeito direto, igualmente personalíssimo, que deixa adivinhar um certo travo de ceticismo com as soluções dadas pela vida. Na poesia, Bukowski é ainda mais duro consigo mesmo. \n Poemas como Faíscas, que narra o tempo perdido num emprego estúpido, que dá ao poeta apenas a garantia de um pequeno pagamento para comprar bebida e maltratar mulheres, ganha um elemento de crítica social, quase marxista, na conclusão melancólica:"Sabíamos que éramos uns babacas fazendo os ricos mais ricos (...) éramos maravilhosos, dávamos a eles muito mais/ do que nos pediam/ e ainda assim/ a eles não dávamos nada\'\'. O erotismo também está presente em sua marca forte, mas que não perde um ar cândido de entrega às mulheres erradas: \'\'Eu quero que ela/ saiba/ que dormir/ todas as noites ao seu lado/ e mesmo nas/ discussões mais banais/ eram coisas/ esplêndidas\'\'. \nO livro traz ainda poemas sobre outras obsessões de Bukowski, como o contato com minorias raciais marginalizadas, as corridas de cavalo, seus autores favoritos, os rompimentos amorosos, o ódio das pessoas direitas, o hábito consolador e destrutivo da bebida. E tem também a morte, a única inimiga de um homem que parece não ter nada a perder com a vida. Suas antevisões do fim são amargas (como o trabalho que vai dar à mulher que acordará ao lado de seu cadáver), mas têm sua carga de vingança: "Mesmo assim continuam querendo/ mulheres/ dinheiro/ fazer sentido". Bukoswski se deu ao luxo de apenas viver. Não sofreu pelos desejos não cumpridos, \'\'logo que você acha/ que está justamente/ começando".

Os poemas são longos, escritos sempre em primeira pessoa, narrando fatos como a dureza de viver, as noites de insônia, a atração pelas mulheres. Parecem — e são — o mesmo enredo de livros como Cartas na rua, Mulheres e Factótum, por exemplo. Mas o que era expressão direta de histórias que brotavam do esforço preguiçoso em apenas continuar vivendo com a cota possível de prazer se torna mais reflexivo e lírico. Não lirismo arranjado com recursos de estilo, mas um jeito direto, igualmente personalíssimo, que deixa adivinhar um certo travo de ceticismo com as soluções dadas pela vida. Na poesia, Bukowski é ainda mais duro consigo mesmo. Poemas como Faíscas, que narra o tempo perdido num emprego estúpido, que dá ao poeta apenas a garantia de um pequeno pagamento para comprar bebida e maltratar mulheres, ganha um elemento de crítica social, quase marxista, na conclusão melancólica: ''Sabíamos que éramos uns babacas/ fazendo os ricos mais ricos/ (...) éramos maravilhosos/ dávamos a eles muito mais/ do que nos pediam/ e ainda assim/ a eles não dávamos nada''. O erotismo também está presente em sua marca forte, mas que não perde um ar cândido de entrega às mulheres erradas: ''Eu quero que ela/ saiba/ que dormir/ todas as noites ao seu lado/ e mesmo nas/ discussões mais banais/ eram coisas/ esplêndidas''. O livro traz ainda poemas sobre outras obsessões de Bukowski, como o contato com minorias raciais marginalizadas, as corridas de cavalo, seus autores favoritos, os rompimentos amorosos, o ódio das pessoas direitas, o hábito consolador e destrutivo da bebida. E tem também a morte, a única inimiga de um homem que parece não ter nada a perder com a vida. Suas antevisões do fim são amargas (como o trabalho que vai dar à mulher que acordará ao lado de seu cadáver), mas têm sua carga de vingança: ''Mesmo assim continuam querendo/ mulheres/ dinheiro/ fazer sentido''. Bukoswski se deu ao luxo de apenas viver. Não sofreu pelos desejos não cumpridos, ''logo que você acha/ que está justamente/ começando''.

João Paulo Do Estado de Minas

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