quinta-feira, outubro 27, 2005

T.R.O.P.I.C.A.L.I.S.M.O


1967. Vaias. Durante o III Festival de Música Popular Brasileira, transmitido pela Rede Record, jovens se reúnem para anunciar o incipiente movimento – que adequa para si características do Modernismo brasileiro, sobretudo a Primeira Geração e, mais singularmente o Movimento Antropofágico – que irá descaracterizar toda a música entitulada “Popular Brasileira”, a qual, até então, era formada apenas pela Bossa Nova e Samba.
Mesclando a música de raiz às guitarras elétricas e aproveitando-se da influência internacional dos Beatles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e Os Mutantes começaram a fabricar uma maneira inusitadamente chocante de se fazer música, letras e canções. Os arranjos ficavam por conta de Rogério Duprat.
Em menos de um ano, algumas vaias se transformaram em aplausos durante o III Festival da Canção (FIC), veiculado pela Rede Globo de Televisão, em 1968. Caetando Veloso, enquanto cantava a música “É Proibido Proibir”, inspirada em frases pichadas nas paredes por representantes do Movimento Estudantil e Contracultura, ambos franceses, viu a Semana de Arte Moderna (Brasil, 1922) ressurgir, perante a chuva de ovos podres que voavam em sua direção. Em resposta às vaias e agressões, ele declamou seu famoso, improvisado e apoteótico discurso:

- “Se vocês forem em política assim como são em estética, estamos fritos! Me desclassifiquem junto ao Gil! Enquanto a vocês, o júri é simpático, mas incompetente. Deus está Solto!!”

Também neste ano a corporificação do movimento deu-se com o lançamento do álbum-manifesto Tropicália ou Panis et Circencis, seguindo a mesma linha desconstrutora que fora “inventada” pelo grupo inglês, The Beatles, fundamentada no disco “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”.
Três meses após a apresentação no III FIC, os militares outorgaram o AI5. A censura fora protegida pela Constituição Brasileira. Qualquer ato dos tropicalistas estavam sendo minunciosamente observados. Na primeira oportunidade, os baianos fundadores do movimento foram exilados em Londres. Em detrimento disso, o Tropicalismo perde o fôlego e vê seu declínio em 1969.
Mesmo aparentemente fugaz, esses dois anos (1967 – 1969) foram bastante expressivos, pois abriram as portas para o desenvolvimento de uma nova maneira de fazer música nacional.
Emilly Dias e Betina Sigg
Dicas para leitura:
CALADO, Carlos. Tropicália: A história de uma revolução musical. Ed. 34: São Paulo, 1997.

Dicas de filme:
Doces Bárbaros, de Jom Tob Azulay (Este filme eternizou a primeira reunião do quarteto –Gal, Gil, Caetano e Maria Betânia, em 1976)

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