Brincando de ser criativa.
O silêncio [1]
“Antes de existir enciclopédia existia alfabeto, antes de existir alfabeto existia a voz, antes de existir a voz existia o silêncio. O silêncio foi a primeira coisa que existiu. Um silêncio que ninguém ouviu”
Como seria produzir um texto escrito sem a mínima noção do que é palavra? Simplesmente, não haveria condições já que a memória e o aprendizado não são construídos do vácuo, eles vêm do reconhecimento de algo muito maior como, por exemplo, a linguagem.
O primeiro contato com a palavra, dá-se no processo de alfabetização, onde uma simples figura torna-se signo que, futuramente, tornar-se-á algo imprescindível importância na dinâmica social de cada indivíduo. Cada nova palavra aprendida adquire uma imagem, que se estabelece como figura única do objeto que ela representa, na mente de cada um. Arrisco-me, inclusive, a dizer que o homem nasce novamente ao penetrar no universo literário.
As crianças mergulham no País das Maravilhas, de Alice, quando transcendem prazerosamente as páginas com escrituras, as quais são reforçadas pelas imagens. A representação colorida do mundo infantil começa nos devaneios literários. Assim, funciona a alfabetização, pois ela permite que a criança adquira a capacidade de encher o papel com as palavrinhas e pensamentos que floreiam sua imaginação.
O salto qualitativo da escrita pode ser notado na evolução das letras garrafais para a manipulação do caderninho de caligrafia. Este pode ser, num momento vivido, utilizado com grande escárnio. Contudo, a lapidação da habilidade componente do “si” poderá ser apreciada com glamour por alguns (poucos) aprendizes. Com toda certeza, Renato Ortiz[2], Luís Fernando Veríssimo, agradecem a existência do alfabeto.
Como começamos a escrever? Isto é notadamente complexo para desenvolver. Acredito que a alfabetização apenas não é capacitadora de escritores, mas sim um inicio. Escrever é uma infindável busca pela “perfeição”. O trabalho final sempre será um rascunho. Os erros permeiam o texto, o acerto vem como conseqüência. É um ato pessoal, expressão do conhecimento, sua subjetividade objetiva. E, para que este processo se concretize, a obtenção de vocabulário, conhecimento da língua, do mínimo de regras gramaticais e o hábito de leitura, serão necessários.
Numa perspectiva geral, Faraco & Tezza[3] definem a língua “não como uma realidade monolítica, homogênea, uniforme, mas como um conjunto de variedades. Essas variedades, entretanto, não se limitam à realidade oral da língua. De fato, a representação gráfica da língua, a escrita, igualmente apresenta um imenso leque de variedades. Basta abrir um jornal para perceber que aquilo que costumamos chamar de “língua portuguesa” é um conjunto de linguagens que diferem bastante umas das outras num grande número de aspectos. Essas diferenças estão diretamente ligadas à intencionalidade de quem produz o texto, o assunto, o destinatário, etc.”
A língua em questão é o português brasileiro. Ela provocará a identificação nacional e, pelo fato de o Brasil englobar vários “Brasis”, falo da Bahia e, com todas as características próprias do local de onde venho, ela ressalta minha regionalidade.
Portanto, “A linguagem não é um meio neutro que se torne fácil e livremente a propriedade intencional do falante, ela está povoada ou superpovoada de intenções de outrem. Dominá-la, submetê-la às próprias intenções e acentos é um processo difícil e complexo[4]”.
Emilly Dias
[1] Música composta por Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.
[2] Renato Ortiz é professor de Sociologia da Universidade de Campinas- UNICAMP.
[3] FARACO, C.A. & TEZZA, Cristóvão. Prática de Texto. Petrópolis: Vozes. 1992
[4] Bakhtin, Mikhail. Questões de literatura e estética, p. 100
Para ver mais fotos acessem o site: http://www.irancartoon.com/100/ShutUp/
Tem ótimas ilustrações, vale a pena confeir!
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