Millôr Fernandes e sua ironia!
Millôr foi uma vítima da ortografia. Nasceu em 16 de agosto de 1923, no Rio, como Milton Viola Fernandes. Registrada depois (seu aniversário oficial é em 27 de maio de 1924), a certidão de nascimento foi grafada de tal jeito que o t de Milton parece um l seguido por um acento, e o n, um r. Foi assim que, aos 17 anos, Milton soube que seu nome era Millôr. Talvez por revanche, construiu uma carreira de rupturas com o português padrão, com vôos de imaginação lingüística que, a rigor, formam gramática própria. "Não passo um dia sem escrever." Fez de tudo: roteirista, ilustrador, dramaturgo, compositor, ator. Não bastasse, é tradutor de Shakespeare, Pirandello, Racine e outros clássicos em cujos idiomas foi autodidata. Seu raciocínio é tão ágil que as palavras se atropelam na voz gutural e oar maroto dá um a mais de jovialidade à silhueta magra. Na cobertura em Ipanema, sentado, olha uma jogada do brasileiro Kaká, pela TV. "O futebol é o raro reduto da glória com mérito" Como se uma coisa chamasse outra, fustiga o escritor Paulo Coelho: "Vende muito, mas é merecidamente desprezado porque faz uma merda de literatura".
O estrangeirismo empobrece a língua portuguesa?
Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas que proibir o povo de falar errado.
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No principio era o verbo. Defectivo, naturalmente.
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Entre o porque e o por quê a mais bobagem gramatical do que sabedoria semântica.
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Por quê? É filosofia. Porque é pretensão.
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Está bem, lingüista, se dois é ambos, por que três não é trampos? As palavras nascem saudáveis e livres, crescem vagabundas e elásticas, vivem informes, informais e dinâmicas. Morrem quando contraem o câncer do significado definitivo e são recolhidas ao CTI dos dicionários.
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É evidente que no princípio foi a interjeição, insopitável pelo espanto diante do fogo, do raio. Depois foi o substantivo para designar a pedra e a chuva. E logo o adjetivo, que fazia tanta falta para ofensas. Mas eles continuam insistindo em que no princípio era o verbo.
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Que língua, a nossa!A palavra oxítona é proparoxítona.
§ Para saber mais, acessem ao site da Revista Língua Portuguesa.
O estrangeirismo empobrece a língua portuguesa?
De maneira nenhuma. Antigamente, tivemos palavras como porta-seios, uma coisa muito feia, que felizmente foi substituída pelo galicismo "sutiã". Toda língua é invadida e, como mulher, fecundada.De vez em quando a nossa leva na bunda, mas nada que, lavada, não fique novinha. Houve tempo em que o galicismo era uma aberração. Não se podia escrever "amante", mas "amásia". Era assustador.Uma vez, era menino, escrevi um conto em que um cara sai pela rua gritando: "Assassinato! Assassinato!" Quiseram que eu colocasse, por respeito à língua, "assassínio", pra evitar o "galicismo"... Quem sai à rua gritando "Assassínio!" é bicha.
Os excessos, como sale, delivery ou 50% off não incomodam a você?
O estrangeirismo não me incomoda. É evidente que essa coisa pouco natural de importar outra língua é muito Barra da Tijuca [bairro da elite carioca], é esse negócio de Estátua de Liberdade de gesso colocada na frente da porta. Pode haver a penetração que quiser, mas é preciso fazer as coisas que nos são naturais. O cara que use delivery com as nega dele. Eu, por exemplo, escrevo aquilo que chega até mim, naturalmente. Devo ter sido a primeira pessoa a escrever whisky na forma "uísque". E ficou. Uso "saite" no lugar de site, que já está consagrada. Os portugueses usam "sítio" e é legítimo. A língua é assim, arbitrária. Se dependesse só do meu arbítrio, aí eu faria uma moção pros órgãos oficiais. Não há porquê do Banco do Brasil usar home delivery quando poderia simplesmente fazer "entrega em domicílio". Os órgãos oficiais brasileiros não podem fazer esse tipo de coisa.
Dos nossos ex-presidentes e do atual - Sarney, FHC e Lula - quem se expressa melhor em português?
Que parada! Fernando Henrique diz besteiras o tempo todo. Como um cara inteligente diz que o povo deveria fazer checkup e que tem o pé na cozinha? Teria o pé na África e olhe lá. Ao dizer "pé na cozinha", é pejorativo. Fernando Henrique é empolado demais da conta. Já o Lula diz bobagens do tipo "as mulheres são desaforadas". Diz também sem saber o que está dizendo. Pensa que está elogiando, sendo engraçadinho, mas não tem noção das palavras. Ocorre que ele tem pronúncia até melhor que o FHC, mesmo engolindo palavras. Já Sarney é o Lula em barroco. Escreve um romance débil mental e passa a ser considerado uma revolução nas letras nacionais.
Quando os eruditos descobriram a língua, ela já estava completamente pronta pelo povo. Os eruditos tiveram apenas que proibir o povo de falar errado.
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No principio era o verbo. Defectivo, naturalmente.
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Entre o porque e o por quê a mais bobagem gramatical do que sabedoria semântica.
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Por quê? É filosofia. Porque é pretensão.
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Está bem, lingüista, se dois é ambos, por que três não é trampos? As palavras nascem saudáveis e livres, crescem vagabundas e elásticas, vivem informes, informais e dinâmicas. Morrem quando contraem o câncer do significado definitivo e são recolhidas ao CTI dos dicionários.
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É evidente que no princípio foi a interjeição, insopitável pelo espanto diante do fogo, do raio. Depois foi o substantivo para designar a pedra e a chuva. E logo o adjetivo, que fazia tanta falta para ofensas. Mas eles continuam insistindo em que no princípio era o verbo.
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Que língua, a nossa!A palavra oxítona é proparoxítona.
§ Para saber mais, acessem ao site da Revista Língua Portuguesa.
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